Há diferença entre psicologia clínica e psicologia da saúde?

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

COMPLEXO DE ÉDIPO: Freud e a multiplicidade edípica

Curso: Psicologia
Disciplina: Teorias e Técnicas Psicanalíticas
Professora: Juçara Clemens
Alunos: Bruna Seidel; Paula Moreira; Tiago Cardozo
Psi 23


PRÁTICA EDUCATIVA ORIENTADA
COMPLEXO DE ÉDIPO: Freud e a multiplicidade edípica

Imagine você sentado em uma roda de amigos. Estão todos na cantina da universidade jogando conversa fora. Os assuntos correm livremente de noticias lidas pela manhã no jornal as temidas provas no fim do semestre. No entanto repentinamente surge Freud, a Psicanálise e o Complexo de Édipo. Ocorre uma empolgação do grupo ao falar sobre o assunto, e a discussão vai tomando profundidade. Você ouve com atenção, mas o nível de conhecimento de seus amigos sobre psicanálise parece ir muito além dos seus. Todos os termos parecem estrangeiros, talvez até alienígenas a você. Inconsciente? Complexo de Édipo? Libido? Recalque? Fantasia de Castração? Pulsões? Há o medo de entrar na conversa e soltar a maior gafe, aquela que vão ficar lembrando até o baile de formatura, mas ao mesmo tempo você deseja compreender melhor estes termos, entrar no assunto e fazer parte da conversa. E agora, o que fazer?
Este é um sinal de que você precisa ler um pouco sobre Freud e a Psicanálise, e apropriar-se de alguns termos essenciais para a satisfatória compreensão de sua teoria. Para começar existe uma série de livros de leitura fácil para o público leigo, entre eles podemos destacar “O Complexo de Édipo” de Chaim Samuel Katz, (Editora Civilização Brasileira, 2009), “O Prazer de Ler Freud” de J.-D. Nasio (Editora Jorge Zahar, 1999) ou ainda “Édipo: o complexo do qual nenhuma criança escapa” também de J.-D. Nasio (Editora Jorge Zahar, 2007). Estes livros o auxiliarão a ter uma compreensão inicial de toda a teoria Freudiana de forma a facilitar o inicio de sua escalada pela compreensão da psicanálise como um preparatório para o aprofundamento dos estudos.
Agora, se você é como os japoneses que não esperam nem o peixe assar para comê-lo, com muita dedicação e empenho elaboramos para você este resumo do livro “O Complexo de Édipo: Freud e a Multiplicidade edípica de Chaim Samuel Katz (2009) com um glossário de termos fundamentais para compreensão de sua obra e também para “mandar bem” naquela conversa com os amigos. Boa Leitura.

GLOSSÁRIO
Ambivalência – “Disposição psíquica do sujeito, que sente ou manifesta, simultaneamente, dois sentimentos, duas atitudes opostas em relação a um mesmo objeto, a uma mesma situação (ex: amor e ódio, desejo e temor, afirmação e negação).” (CHEMAMA, 1995, p. 11).
Afeto – “Termo que a psicanálise foi buscar na terminologia psicológica alemã e que exprime qualquer estado afetivo, penoso ou desagradável, vago ou qualificativo, que se apresente sob a forma de uma descarga maciça, quer como totalidade geral. Segundo Freud toda pulsão se exprime nos dois registros, do afeto e da representação. O afeto é a expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional e das suas variações” (PLON, ROUDINESCO, 1997, p. 9).
Complexo de Édipo – “É um conceito central dentro da psicanálise. Trata-se de um período na fase de desenvolvimento da criança em que esta “exprime o desejo sexual ou amoroso [...] pelo genitor do sexo oposto e sua hostilidade para com o genitor do mesmo sexo”. Sua ocorrência é por volta dos três aos cinco anos e depois de seu declínio resulta na entrada em um período de latência que somente será resolvido na puberdade” (PLON, ROUDINESCO, 1998, p. 166).
Fantasia – “Utilizado por Freud. Correlato da elaboração da noção de realidade psíquica e do abandono da teoria da sedução designa a vida imaginária do sujeito e a maneira como este representa para si mesmo sua historia ou a historia de suas origens” (PLON, ROUDINESCO, 1997, p. 223).
Libido – “Do latino (desejo). Designado por Freud como manifestação da pulsão sexual na vida psíquica e por extensão, a sexualidade humana em geral e a infantil em particular entendida como casualidade psíquica, disposição polimorfa, amor – próprio, e sublimação” (PLON, ROUDINESCO, 1997, p. 471).
Mito de Édipo – Mito de Origem Grega no qual Freud se inspirou para desenvolver seu conceito de Complexo de Édipo. Neste mito Édipo mata seu próprio pai, toma o lugar deste e casa-se com a mãe sem o saber. Mesmo sendo considerando um excelente governante, sérios problemas podem ser notados durante seu governo, sendo explicada na interpretação do mito pelo desrespeito a regra do incesto. Ao descobrir toda a verdade, Édipo fura seus próprios olhos. Este mito traz um correlato para com o conceito de Complexo de Édipo, pois ilustra a questão do desejo inconsciente infantil de tomar o lugar do genitor do sexo oposto, no caso o pai, e os problemas decorrentes caso esta regra do incesto seja desrespeitada (PLON, ROUDINESCO, 1997).
Principio do Prazer – “Par de Expressões introduzido por Sigmund Freud em 1911, a fim de designar os dois princípios que regem o funcionamento psíquico. O Primeiro tem por objetivo proporcionar prazer e evitar o desprazer, sem entraves nem limites (como o lactente no seio da mãe, por exemplo) e o segundo modifica o primeiro, impondo-lhe as restrições necessárias à adaptação à realidade externa” (PLON, ROUDINESCO, 1998, p.603). “Princípio que rege o funcionamento psíquico, segundo o qual atividade tem por funcionalidade evitar o desprazer e buscar o prazer” (CHEMAMA, 1995, p. 164).
Recalque – “No sentido próprio. Operação pela qual o sujeito procura repelir ou manter no inconsciente representações ligadas a uma pulsão. O recalque que se produz nos casos em que a satisfação de uma pulsão - suscetível de proporcionar prazer por si mesma – ameaçaria provocar desprazer relativamente às outras exigências” (Laplanche e Pontalis, 2001, p. 430).
Resistência – “Chama-se resistência a tudo o que nos atos e palavras do analisado, durante o tratamento psicanalítico, se opõe ao acesso deste ao seu inconsciente. Por extensão, Freud falou de resistência à psicanálise para designar uma atitude de oposição as suas descobertas na medida em que elos revelam os desejos inconscientes e infligem ao homem um “vexame psicológico”” (Laplanche e Pontalis, 2001, p. 458).
Simbólico – “Termo introduzido por J. Lacan, que distingue no campo da psicanálise três registros essenciais: o simbolismo, o imaginário e o real. O simbolismo designa a ordem de fenômenos de que trata a psicanálise, na media em que são estruturados como uma linguagem. Este termo refere-se também a ideia de que a eficácia do tratamento tem o seu elemento propulsor real no caráter fundador da palavra” (Laplanche e Pontalis, 2001, p. 480).
Transferência – “Designa em psicanálise o processo pelo qual os desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos no quadro de certa relação estabelecida com eles e, eminentemente, no quadro da relação analítica. Trata-se aqui de uma repetição de protótipos infantis vivida com um sentimento de atualidade acentuada. É a transferência no tratamento que os psicanalistas chamam a maior parte das vezes transferência, sem qualquer outro qualificativo” (Laplanche e Pontalis, 2001, p. 514).
Trauma – “Acontecimento na vida do sujeito que se define pela sua intensidade, pela incapacidade em que se encontra o sujeito de reagir a ele de forma adequada, pelo transtorno e pelos efeitos patogênicos duradouros que provoca na organização psíquica. Em termos econômicos, o traumatismo caracteriza-se por um afluxo de excitações que é excessiva em relação à tolerância do sujeito e a sua capacidade de dominar estas excitações” (Laplanche e Pontalis, 2001, p. 522).
Zona-Erógena – “Qualquer região do revestimento cutâneo mucoso suscetível de se tornar sede de uma excitação do tipo sexual. De forma mais especifica, certas regiões que são funcionalmente sedes dessas excitações: zona oral, anal, uretra – genital, mamilo” (Laplanche e Pontalis, 2001, p. 533).

RESUMO DO LIVRO
São varias as releituras de Freud e as interpretações são múltiplas. A interpretação precede os signos, portanto pensar freudianamente não é apenas repetir alguns de seus muitíssimos interpretes, mas considerar que o campo de interpretação considera os signos, mas elabora também suas próprias condições de interpretar. Cabe a psicanálise e aos psicanalistas pensar e analisar no campo freudiano as modificações impostas pela ampla produção de outras naturezas.
Édipo e complexo só aparecem juntos como expressão na obra de Freud, a expressão Édipo não é qualquer e nem pode ser substituída por outra de qualquer modo e se confunde no campo psicanalítico. O vasto pensamento psicanalítico não deriva de um nome ou de um conjunto de significantes, pois não se faz fora da produção desta expressão como conceito e categoria. E Édipo é a tradução de um mito grego no qual Édipo mata seu pai o Rei Laio e casa-se com sua mãe Jocasta
Para Freud complexo é o que acolhe a especificidades dos humanos e suas relações mais importantes, marcas que formam seres humanos únicos. Porem, estes mesmos seres são condicionados a viverem em um sistema articulado e organizado de uma mesma forma. Ele afirma que os indivíduos são constituídos de uma energia única de ordem sexual, chamada de a lidido. O prazer buscado pelo a libido é a sensação que alcança a expansão das percepções sexuais do individuo.
Em relatos para seu amigo Wilhelm Fliess (1858-1928) Freud conta experiências edípicas que via nos outros e que acontecia também com ele mesmo, como, o amor pela mãe e o ódio pelo pai, e passa a considerar como um acontecimento geral, um complexo nuclear de toda infância denominada “Complexo de Édipo”.
O Conceito de Complexo de Édipo desenvolvido por Freud tem pontos em comum com a teoria do antropólogo Levi-Strauss. Para Levi-Strauss a cultura tem como ponto inicial a imposição de alguma regra, algo que extrapola a pura vivência dos extintos animais, a regra inicial para Levi-Strauss seria a proibição do incesto. Freud ao desenvolver o CdE postula que a criança possui desejos sexuais em relação aos seus genitores. Este desejo reside puramente no principio do prazer e ignora o principio de realidade. No entanto, durante a fase do Édipo, a criança tem estes desejos recalcados e os papéis familiares tornam-se bem delimitados. O pai impõe ao filho a proibição de possuir a mãe, e este tendo o desejo recalcado aprende o que seria a primeira regra cultural imposta pela família. É desta maneira que a vida em sociedade torna-se possível, a proibição do incesto ou a conflitiva edípica, são o ponto crucial em que a criança consegue limitar, conter suas pulsões e desta maneira diferimos dos animais, que agem meramente por instintos, guiados pelo principio do prazer.
Para a psicologia clinica que usa a psicanálise saber sobre o complexo de Édipo é indispensável. É na fase edípica que a criança forma o caráter sexual que levará pelo resto de sua vida, caso a conflitiva edípica não seja bem resolvida na criança, ela poderá ter marcas que levará por toda sua historia. Então, caberá ao analista chegar ate a fase “afetada” fazer o caminho inverso do tempo e tratar essas marcas psíquicas do paciente.

REFERÊNCIAS
Katz, Chaim Samuel. Complexo de Édipo: Freud e a multiplicidade edípica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.

Nasio, J.-D. Édipo: o complexo do qual nenhuma criança escapa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.

Nasio, J.-D. O Prazer de Ler Freud. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.

Nenhum comentário:

Postar um comentário