ACADÊMICAS: BRUNA CORSANI,
DAYANNE CAMPIGOTTO,
PRISCILA DE SOUZA e
ROSENILDA DA SILVA WOLFF
PSI 23
Dentro da Psicologia Clinica, se inclui a Psicanálise. Trazemos aqui um breve resumo do livro “O complexo de Édipo (Freud e a multiplicidade edípica)”, o qual explica detalhadamente as etapas do complexo de Édipo. Este resumo facilitará seu entendimento e aguçará sua vontade em aprofundar-se no complexo. Logo, ao final você encontra um glossário do livro e suas referências.
SÍNTESE
O Complexo de Édipo:
Freud e a Multiplicidade Edípica.
As interpretações das leituras de Freud são infinitas e múltiplas. O saber de Freud é intempestivo e também trans-discursivo, vai além das épocas e das marcações culturais.
Para o complexo de Édipo existem vários conceitos, mais apenas na obra Freudiana receberam significação original e fundador. A expressão se funde com o campo inteiro da Psicanálise. Para iniciar a teoria, Freud partiu da descoberta de que os humanos se organizam psiquicamente através de um complexo nuclear, e supõe que os mitos e lendas se constituem com o variante de uma mesma estrutura, o inconsciente. É a partir da lenda de “Édipo” teatralizada por Sófocles e sua auto-análise que Freud baseia sua teoria.
Para Freud o complexo de Édipo é o conceito que funda, que acolhe, subsumi a especificidade dos humanos e suas relações mais importantes, o que os marca como essencialmente humanos subjetivados.
O desejo do Édipo é eliminar o pai e possuir a mãe. O incesto é o desejo de introjetar completamente, possuir aquela que o gerou e eliminar quem se põe como obstáculo. Mas o discurso psicanalítico distingue o permitido do proibido. O próprio filho, mesmo antes de poder ter acesso ao discurso verbal, à memória da ordem conceitual aprenderá regras e comportamentos que deverá seguir permanentemente, que serão sua destinação. O Complexo de Édipo de certa forma tem uma função fundamental, tanto para indivíduos quanto para grupos, ele evita que a energia sexual (a libido) circule desgovernadamente, que essa energia siga em sua busca de prazer a qualquer preço. É sob o complexo que a vida social se torna tolerável. É desse modo que nasce a família e a ordem familiar, bem como a cultura e as relações sociais.
Freud, usa o conceito de representações para se referir ao modo como os termos se apresentam para a compreensão; e como se apresentam inconscientemente e quando isso acontece as representações atravessam pela ordem do prazer e do recalque. Essa teorização exige que compreendamos as experiências psíquicas, sempre em segunda, ou seja experiências que já tivemos. As experiências psíquicas são as que se inscrevem no aparelho psíquico, mas que já foram marcadas pela experiência anterior do prazer. É através da memória que podemos recordar, lembrar algo que já foi experimentado.
Para Freud, o prazer é uma marca, uma sensação que deixa trilhas, que tenderão a ser retrilhadas, assim vão constituir o sistema de representações e só podem entrar nele se mantiver as características do sistema e o sistema se dá de acordo com a busca do prazer, da sua repetição e de suas condições de reproduções.
Freud postula que o psiquismo funciona como sistema que gera prazer, mas de forma homeostática, e mantém uma quantidade de energia constante, e se essa energia aumenta, proporciona um sentimento de desprazer.
É o sistema de representações que dá a característica de representação ao fato, porém o complexo nuclear só ganha estatuto de expressão quando se remete aos fatos vividos pelo próprio sujeito. O fato ganha valor eventual somente após se estabelecer edipicamente.
Há uma questão importante que foi discutida no livro que foi: se os sentires e fazeres do personagem Édipo, são os mesmos dos dias atuais, e se existe um inconsciente universal, que determina os humanos subjetivados em todos os momentos da história até os dias de hoje, ou se isso ocorre com vários regimes de produção inconsciente, dependendo do meio social, político, psíquico ou social de cada individuo?
Podemos ver com essa leitura, que cada estudioso tem uma opinião diferente a respeito do Complexo de Édipo. Para o antropólogo Bronislaw Malinowski (1848-1942), o CdE, existia sim, mas depende do contexto cultural onde cada individuo está inserido, a partir dai se forjaria cada tipologia psicológica, ele se opôs a interpretação de Freud. Já para o Psicanalista e etnólogo Húngaro Geza Róheim (1891-1953), analizando de Ferenczi, os objetos com que o individuo precisa lidar são intermediários, ambivalentes ou duais: narcísico e objetos de cultura. Narcísicos pois são libidinais e de cultura, pois brincados pelo individuo
No interior de suas culturas múltiplas. E ao contrário de Malinowski, ele acredita que os indivíduos estaria desde de sempre destinados ao CdE, pelo pré-édipo.
Jean-Pierre Vernant (1914-2007), para ele quando houve a criação da lenda edípica, os gregos começaram a interiorizar sua responsabilidade própria, autônoma, sobre os atos que lhes adivinhariam desde ou pelos deuses. Ele acredita que os gregos distinguiam rigorosamente entre eros e philia, dois tipos de amor e desejo. Amor e desejos esses, familiares e não incestuosos.
Para Michel Focault (1926-1984), precisaríamos de mais evidências, para conhecermos verdadeiramente, a história de Édipo, representado por Sófocles. A Psicanálise procuraria a verdade de Édipo, enquanto Focault, se propõe a pensar e a buscar a verdade para Édipo, ou seja, para nós. Ele diz, não haver transparência na cultura, por mais que pensamos saber tudo sobre ela, não existe cultura aonde se pode falar tudo e sobre qualquer coisa.
Para a teoria psicanalítica, o momento crucial da constituição do sujeito situa-se no campo da cena edípica. O complexo de Édipo existe para tentar domesticar os impulsos incestuosos, e estes são permanentes. Complexo e proibição de incesto estão definitivamente soldados, e é tal paradoxo que Freud sustenta na sua teorização.
Se nos voltarmos para a clínica freudiana, veremos que o Complexo de Édipo é um grande (e, segundo Freud, universal) instrumento de dupla ação: domestica as pulsões e lhes aplica limites necessários; mas não tem como contê-los inteiramente. Freud também dirá que o enquadramento nos sistemas de parentesco e a proibição do incesto estarão sempre desafiados pelo incondicional da anexação dos outros, visto que já nascemos destinados pelo outro, forma principal de produção de cultura.
GLOSSÁRIO:
O Complexo de Édipo
Freud e a Multiplicidade Edípica.
Castração - “ Para Freud, conjunto das consequências subjetivas, principalmente inconsciente, determinadas pela ameaça de castração, no homem e pela ausência de pênis na mulher.” (Chemama, 1995, p.30).
Complexo – “Conjunto de sentimentos e representações, parcial ou totalmente inconsciente, dotado de uma potência afetiva que organiza a personalidade de cada um, marca seus objetivos e orienta suas ações.” (Chemama, 1995, p.33).
Complexo de Édipo - “É um desejo sexual próprio de um adulto, vivido na cabecinha e no corpinho de uma criança de quatro anos e cujo objetivo são os pais.” (...) “É a primeira vez na vida que a criança conhece um movimento erótico de todo o seu corpo em direção ao corpo do outro.”
(...)absorvida por um desejo sexual incontrolável, tem de aprender a limitar seu impulso e ajustá-lo aos limites de seu corpo imaturo, aos limites de sua consciência nascente, aos limites de seu mesmo e, finalmente, aos limites de uma Lei tácita que lhe ordena que pare de tomar seus pais por objetos sexuais. Eis então o essencial da crise edipiana: aprender a canalizar um desejo transbordante. (Laplanche e Pontalis, 2001, p.77).
Desejo – “Falta inscrita na palavra e efeito da marca do significante sobre o ser falante. Em um sujeito, o lugar de onde vem sua mensagem linguística é chamado de outro, parental ou social. Ora o desejo do sujeito falante é o desejo do outro.” (Chemama, 1995, p. 42).
Inconsciente – “Conteúdo ausente, em um dado momento instância constituída de elementos recalcados.” (Chemama, 1995, p.106).
Instinto – “a) Classicamente, esquema de comportamento herdado, próprio de uma espécie animal, que pouco varia de um individuo para outro, que se desenrola segundo uma sequência temporal parece corresponder a uma finalidade.
b) Termo utilizado por certos autores psicanalíticos como tradução ou equivalente do termo freudiano Trieb, para o qual numa terminologia coerente, convêm recorrer ao termo pulsão.” (Laplanche e Pontalis, 2001, p.241).
Libido – “Energia psíquica das pulsões sexuais, que encontram seu regime em termos de desejo.” (Chemama, 1995, p.126).
Pré-consciente – “Instância psíquica proposta por Sigmund Freud, após sua descoberta do inconsciente, para representar, no aparelho psíquico, um lugar intermediário entre o inconsciente e o consciente, necessário para assegurar o funcionamento dinâmico desse aparelho.” (Chemama, 1995, p. 164).
Psicanálise – “Disciplina fundada por Freud e na qual podemos, com ela distinguir três níveis:
a) Um método de investigação que consiste essencialmente em evidência o significado inconsciente das palavras, das ações, das produções imaginárias (sonhos, fantasias, delírios) de um sujeito. Este baseia-se principalmente nas associações livres do sujeito, que são a garantia da validade da interpretação. A interpretação psicanalítica pode estender-se a produções humanas para as quais não se dispõe de associações livres.
b) Um método psicoterápico baseado nesta investigação e especificado pela interpretação controlada da resistência, da transferência e do desejo. O emprego da Psicanálise como sinônimo de tratamento psicanalítico está ligado a este sentido; exemplo: começa uma psicanalise (ou uma análise).
c) Um conjunto de terias psicológicas e psicopatológicas em que são sistematizados os dados introduzidos pelo método psicanalítico de investigação e de tratamento.” (Laplanche e Pontalis, 1982, p.385).
Pulsão – “Na teoria analítica, energia fundamental do sujeito, força necessária ao seu funcionamento, exercida em sua maior profundidade. Como essa força se apresenta de muitas formas, é conveniente falar de pulsões em lugar de pulsão, exceto no caso em que esteja interessado em sua natureza geral – nas características comuns a toda pulsão.” (Chemama, 1995, p.177).
Representações – “Forma elementar daquilo que é inscrito nos diferentes sistemas do aparelho psíquico.” (Chemama, 1995, p.192).
Repressão – “Qualquer impulso, fora da consciência, de um conteúdo representado como despraze-roso ou inaceitável; ação do aparelho psíquico sobre o afeto.” (Chemama, 1995, p.192).
Referências:
Chemama, Roland (Org.). Dicionário de psicanálise. Porto Alegre : Editora Artes Médicas Sul, 1995.
Laplanche, Jean. Vocabulário da psicanálise. São Paulo : Livraria Martins Fontes, 2008.
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