Tornado atinge Canela no Rio Grande do Sul
Ventos de até 124 quilômetros por hora atingiram Canela, na serra gaúcha, Rio Grande do Sul, na noite de quarta-feira, 21 de julho, por volta de 20h40min..
CENÁRIO
Canela é um município brasileiro de origem alemã na serra do estado do Rio Grande do Sul. Faz divisa com a cidade de Gramado. A cidade é muito conhecida pelas atrações turísticas, tais como a Cascata do Caracol, o Parque da Ferradura e a Catedral de Pedra.
Está localizada na Serra Gaúcha, na Região das Hortênsias. Possui um relevo bastante acidentado tendo sua área urbana localizada a 837 metros de altitude. A combinação deste relevo com a hidrografia abundante proporciona à cidade diversas cascatas e vales.
RASTRO DE DESTRUIÇÃO
Na estação do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a velocidade do vento registrada foi de 123,8 km/h. Os bairros mais atingidos foram Vila dos Cedros, Vila Maggi, São José, Santa Marta, Quinta da Serra e Santa Terezinha.
A Prefeitura de Canela informou que os três bairros afetados pelo vendaval ficam a cerca de três quilômetros do centro. Os maiores prejuízos foram registrados no bairro de classe média Santa Terezinha, onde duas fábricas de móveis e uma metalúrgica foram destelhadas e cerca de 300 casas foram total ou parcialmente destruídas.
Nos mais de sete quilômetros de destruição deixados pelo tornado que sacudiu o coração da principal região turística do Estado, quase todos os pontos de visitação mais frequentados de Canela e Gramado saíram a salvo.
O tornado devastador cruzou a Avenida das Hortênsias, principal ligação entre as duas cidades, passou pelo Vale do Quilombo e destroçou áreas de sete bairros residenciais de Canela. A ventania passou muito perto de locais famosos, a menos de um quilômetro da Praça da Matriz, onde fica a Catedral de Pedra. Foram destruídas mais de 200 árvores.
PARECE QUE UMA MOTOSSERRA PASSOU PELA CIDADE
O prefeito da cidade, Constantino Orsolini, disse que nunca tinha visto algo assim em sua vida. Tem bairros que parece que passou uma motosserra, derrubando todas as árvores. O cenário é de destruição, ruas foram detonadas, esgotos estão entupidos, postes de luz foram arrancados.
VÍTIMAS
Onze pessoas deram entrada no Hospital de Caridade até à meia-noite – nenhuma com ferimentos graves. Todas já foram liberadas.
DEFESA CIVIL CONTABILIZA OS DANOS
■ 489 casas afetadas, sendo 408 estão danificadas e 81 destruídas
■ Cerca de 2.000 pessoas foram afetadas de alguma forma pelo temporal e 180 pessoas estão desalojadas, ou seja, na casa de parentes ou amigos. Ao todo, 11 pessoas ficaram feridas com o fenômeno climático e foram atendidas no hospital de Caridade de Canela – todas já foram liberadas.
■ De acordo com o balanço, outras três cidades do Estado tiveram grandes prejuízos. Em Ibiaçá, 22 residências ficaram danificadas com a forte chuva. Em Imigrante, um vendaval e uma chuva de granizo atingiram 3.000 pessoas e danificaram cem casas, destruindo outras 20. Na cidade de Nonoai houve enxurrada e 25 moradias ficaram danificadas.
■ Já em Gramado e em São Francisco de Paula, o estrago ocorreu em pontos localizados, com a queda de árvores. Até o momento, a Defesa Civil não contabiliza feridos nessas cidades.
OS ESTRAGOS POR BAIRRO
■ São José e Santa Marta: 32 casas danificadas e 14 destruídas (baixa renda). 14 danificadas e nenhuma destruída (maior poder econômico). Serão necessários 3.740 metros quadrados de telhas.
■ Quinta da Serra: Sem danos entre a população baixa renda. 10 danificadas e uma destruída (maior poder econômico). Serão necessários 1.650 metros quadrados de telhas
■ Santa Terezinha: 7 casas danificadas e 24 destruídas (baixa renda). 109 danificadas e seis destruídas (maior poder econômico). Serão necessários 12,4 mil metros quadrados de telhas
■ Vila Maggi: 10 danificadas e 11 destruídas (baixa renda). 4 danificadas e nenhuma destruída (maior poder econômico). Serão necessários 2.080 metros quadrados de telhas
■ Vila do Cedro e Leodoro de Azevedo: 108 danificadas e 25 destruídas (baixa renda). 113 danificadas e nenhuma destruída (maior poder econômico). Serão necessários 23,8 mil metros quadrados de telhas.
TESTEMUNHAS
■ Maicon Ghesla, espiou pela janela e viu a cobertura de zinco da fábrica de móveis Castanheira flutuando no ar, metros acima do pavilhão de alvenaria. A estrutura metálica girou, girou e então explodiu. Folhas de zinco foram arremessadas em todas as direções, voando centenas de metros. Uma das lâminas trombou com uma árvore em frente à casa da família Ghesla e deu três voltas ao redor do tronco, como para embrulho. Tudo tremia, estrondava e rodopiava. Quando o bombardeio amainou, depois de menos de um minuto, a casa da família e ruas inteiras do bairro Santa Terezinha, em Canela, estavam transformadas em escombros.
■ Situado a apenas 800 metros da Igreja de Pedra, um dos cartões-postais mais conhecidos do Rio Grande do Sul, o bairro de classe média foi, epicentro de um fenômeno com características de tornado.. Na sequência do vendaval, os moradores atravessaram debaixo de chuva e frio, na escuridão sem energia elétrica, uma noite de contornos irreais. Vagando pelas ruas, vislumbravam pinheiros que dois homens não conseguiriam abraçar despedaçados ao meio ou arrancados pela raiz com a violência do vento. Descobriam que, em locais onde até minutos antes ficava a casa de tijolos de um amigo, restava agora apenas um par de degraus conduzindo a lugar algum. Encontravam construções destroçadas com a facilidade com que se amassa uma folha de papel. Viam coisas onde elas não deviam estar: um bosque de pinus transferido para cima de uma casa, uma porta metálica de garagem no alto de uma árvore, um poste de concreto partido em três junto ao meio-fio. Era tanta devastação que quem tinha apenas um destelhamento para lamentar se considerava afortunado.
■ O pintor Mário Luís Ghesla, pai de Maicon, conta que o primeiro sinal da tragédia foi uma rajada tão potente que o vento não parecia de ar, mas de pedra. Depois a casa tremeu, e, enquanto tremia, os vidros das janelas estouraram, espalhando estilhaços. Um tijolo vindo ninguém sabe de onde atravessou a parede da sala de uma extremidade a outra. O forro parecia ser puxado para cima. A energia elétrica falhou. No dia seguinte, restava a Ghesla cobrir o telhado desaparecido com lonas, lamentar o automóvel destroçado na garagem e encontrar no quintal fragmentos das vidas dos vizinhos: pedaços de moradias, utensílios domésticos e até mesmo um computador vindo não se sabe de onde. Destelhou e molhou tudo em casa. Nem sei mais o que presta e o que não presta – lamentou.
■ O mecânico Jean Carlos Boch, perguntava-se onde afinal foi parar o segundo piso de sua casa, constituído por dois quartos e um banheiro de alvenaria. Aqui neste monte de entulho era minha garagem. Uma parede da minha casa o vizinho disse que está dentro da casa dele. Mas o segundo piso eu realmente não sei onde foi – surpreendia-se Boch, que viu serem destruídos a moradia, dois carros, móveis e eletrodomésticos. Na hora do tornado, o mecânico estava na sala. Ele lembra primeiro do corte na energia elétrica. Depois, descreve um silêncio total e estranho:
– Então veio vento de supetão, derrubando, como o fim do mundo. Foi um barulho que não tenho como definir o que era. Vidraça estourando nas casas, parede voando contra parede, ferro batendo, gente gritando. Quando nosso telhado começou a levantar, ficamos todos em um canto, abraçados, sob chuva de telhas. Uma me acertou no ombro. Na hora em que a coisa aquietou e olhei o estrago na rua, pensei: terminou o mundo. Na minha cabeça, tudo não durou nem um minuto.
■ Nenhuma destruição foi tão impressionante como a dos pavilhões onde funcionavam duas fábricas de móveis sob medida. Até o fim do expediente da quarta-feira, as indústrias Castanheira e Aristeu Pires fervilhavam de atividade nos seus mais de 4 mil metros quadrados de área construída. Ocupavam prédios de tijolo e aço nos quais cerca de 50 funcionários trabalhavam, produzindo a mobília dos sonhos de gaúchos de todos os quadrantes. Ontem, as fábricas estavam espalhadas pelo bairro, na forma de milhares de estilhaços de telhas, tijolos, móveis inacabados e madeira. O expediente dos funcionários consistia em saltar sob os entulhos, tentando resgatar algo de aproveitável. Mas não sobrou quase nada. Uma parede dos pavilhões ficou parcialmente em pé, mas as outras foram ao chão. Móveis e maquinário entortaram, quebraram, perderam-se. No chão, em meio a tijolos solteiros que na véspera eram uma parede, um cartaz roto avisava: “Mantenha organizado”. O cenário lembrava o de um prédio implodido com as melhores técnicas da engenharia
■ Mais impressionante do que a destruição, só o fato de ninguém ter morrido ou se ferido gravemente. Sozinha na hora do tornado, Lodenira Lodea, foi a sobrevivente mais improvável. Ela foi arremessada com casa e tudo para o pátio do vizinho. Até o assoalho voou. Sua residência, de madeira e alvenaria, colidiu com a do vizinho, que também cedeu. Ele ouviu os gritos da vizinha e a resgatou de entre as tábuas, praticamente sem sair de casa.
COBERTURAS PROVISÓRIAS
Foram distribuídas lonas para cobrir casas e estabelecimentos e ao longo da quinta-feira (23) pela Defesa Civil
AVALIAÇÃO DOS DANOS
Técnicos da Defesa Civil, engenheiros e arquitetos finalizam na sexta-feira, 23 de julho, o relatório da situação de emergência em Canela no desastre que deve figurar entre os cinco maiores da história do Estado. O critério foi usado pelo major Aurivan Chiocheta, subchefe da Defesa Civil estadual . Segundo o major, técnicos da UFRGS devem chegar a Canela ainda hoje para fazer uma análise mais detalhada da situação. Eles se juntam aos profissionais que já trabalham no município desde a madrugada de quinta-feira. Materiais como telhas, agasalhos, alimentos e colchões já estão sendo distribuídos às famílias atingidas.
ESTIMATIVA DE PRAZO PARA RECUPERAÇÃO DA CIDADE
De quatro a oito meses tudo deve ser recuperado. Será necessária muita ajuda dos governos federal e estadual.
ESTIMATIVA DOS PREJUÍZOS
A estimativa é de que serão necessários R$ 10 milhões (5,6 milhões de dólares) para a reconstrução.
MOBILIZAÇÃO DE PESSOAL
Cerca de 200 pessoas da Defesa Civil, equipes da Prefeitura, do Corpo de Bombeiros e da Brigada Militar ainda trabalham na reforma de 157 casas populares destruídas pelos temporais em Canela.
CIDADE DE TURISMO
O prefeito destacou a importância dos turistas para a cidade. Com 60% da economia baseada no turismo, o prefeito pediu aos turistas que continuem visitando a cidade. Se você quer ajudar Canela, venha até Canela, disse o prefeito.
BALANÇO DEFINITIVO DOS DANOS
O Município decretou situação de emergência em decorrência de ventos intensos seguidos de chuva forte. O evento climático atingiu parte da área urbana da localidade.
Registra-se que
■ 1300 pessoas foram afetadas de alguma forma, 200 pessoas estão desalojadas, 11 pessoas estão desabrigadas, 11 ficaram levemente feridas,
■ 444 residências foram danificadas e 81 ficaram destruídas.
■ também ocorreram danos nos sistemas de energia elétrica, de comunicação e transporte.
Fontes: UOL Notícias -22 de julho de 2010, Zero Hora – 23 a 25 de julho de 2010
Comentário:
Por falta de equipamentos meteorológicos (radares) existe controvérsia no tipo de ocorrência, foi tornado ou não?
Meteorologistas ainda não têm certeza de qual fenômeno atingiu Canela. Mas já sabem que os estragos são resultado do encontro de um frente fria que subia a Serra com uma massa de ar quente proveniente da Amazônia, o conhecido vento norte.
– Foi a combinação para a formação de uma tempestade com vento forte. Tínhamos temperaturas elevadas em Canela. Chegou a 23°C à tarde. Ao se chocar com a instabilidade que vinha do Sul, o vento norte ganhou intensidade – explicou a meteorologista Estael Sias, da Central de Meteorologia.
Por ter causado estragos em uma área de cerca de duas quadras de Canela e ter tido uma duração de poucos minutos, a meteorologista acredita que a cidade possa ter sido atingida por um tornado ou ainda por uma microexplosão. A confirmação do fenômeno só poderá ser feita a partir da análise dos estragos e relatos de moradores que presenciaram o fenômeno.
– Em apenas 1% dos temporais aqui no Estado ocorrem tornados. E geralmente duram poucos segundos, até um minuto. A microexplosão é mais comum e pode durar alguns minutos – explicou Estael.
Conforme ela, no caso do tornado, o movimento dos vento ascendente e descendente provoca uma rotação dentro da nuvem. Esta rotação gera o funil, o tornado, que pode tocar o solo várias vezes.
– Ao tocar o solo, o tornado tem uma grande força de destruição. É comum ver árvores e postes retorcidos. Os destroços são arremessados em foram espiral sobre o terreno após serem sugados pelo tornado – disse Estael.
Mais comum, a microexplosão também está sendo investigada. Ela ocorre quando o vento descendente se desprende da base da nuvem e atinge o solo com grande força. É como se uma bomba tivesse caído no solo. – Também é um fenômeno hiperlocal que pode atingir apenas uma quadra ou um bairro – explica ela.
A terceira hipótese é uma frente de rajada. Por ter geralmente uma extensão de estragos maior, é a menos provável das causas.
O meteorologista Marcio Custódio explica que é difícil definir o fenômeno, mas as características do rastro de destruição deixado por ele são parecidas as de um tornado.
— Analisando fotos do evento e conversando com colegas da região, optamos por definir o sistema como um tornado. Vimos fotos aéreas que mostram que apenas um lado da rua foi destruído e o outro estava intacto. Isso é bem caraterístico de um tornado, que é um funil e faz uma trilha de estragos e árvores arrancadas pela raiz. Ele é um sugador, que puxa tudo para cima e joga longe. Já na microexplosão, outro fenômeno, a rajada vem de cima para baixo e acaba por quebrar no meio a árvore, sem arrancar pela raiz — explica.
Custódio afirma que pesquisas apontam que a região sul do Brasil é a segunda no mundo em incidência de tornados, perdendo apenas para os Estados Unidos.
— O problema é que não temos as ferramentas necessárias, como radares meteorológicos, para identificar esses fenômenos. Aqui fica muito no visual, de alguém tirar fotos ou eles passarem perto de uma estação meteorológica. A interpretação varia de cada meteorologista. Como ninguém viu a configuração clássica do tornado, o funil, há divergências entre os Institutos, o que é normal neste caso — completa o meteorologista, que acredita que a velocidade do vento pode ter sido ainda mais forte em pontos mais próximos de onde o tornado passou, podendo ter atingido até cerca de 200 km/h.
Escala Fujita
A classificação chamada escala Fujita, é feita de acordo com a intensidade do fenômeno. Ela foi desenvolvida por Tetsuya Theodore Fujita,da Universidade de Chicago
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